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O jacaré do lago

Celi Camargo
Publicado em 09/12/2024 às 17:48
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Era uma vez um pequeno jacaré, muito astuto, que vivia com sua família no rio Uberaba e seus afluentes. Desde que nasceu, sempre se mostrou mais aventureiro e desafiador do que os outros irmãos. Vivia tentando explorar outras águas, outros mananciais distantes da família.

A mamãe Jacaré se preocupava com o filhote e, de certo modo, entendia a aflição dele, já que a poluição e o assoreamento do rio Uberaba impunha dificuldades para a sobrevivência da família. Contudo, ela precisava proteger o filho e mantê-lo longe do perigo.

E o rio Uberaba, que durante seis meses foi baixando o nível de água devido à falta de chuva, foi secando e secando até que um dia, finalmente, choveu em abundância. Choveu tanto, mas tanto, que o pequeno jacaré deixou se levar pelas águas e se jogou na aventura.

Ele surfou nas águas, alegre, e, satisfeito, abria a bocarra e gritava:

- Uhuuuuuuuuu! Que maravilha!

E assim deixou se levar... até que caiu em um lugar apertado e percebeu que estava numa rede de águas pluviais. E daí murmurou:

- Ai, ai, ai, onde essas águas vão me levar?

Ploft!

De uma só vez, ele foi arremessado em um lago. Sem entender onde estava, mergulhou e viu que ali tinha comida em abundância. Logo que as capivaras viram o novo vizinho, trataram de sair dali para não virarem comida de jacaré.

O lago em que o filhote estava era dentro da cidade e frequentado por muitas pessoas, que vão em busca de diversão e prática esportiva. No vai e vem de gente, logo o Jacarezinho foi notado e virou notícia na cidade.

Acionado, o Corpo de Bombeiros armou uma arapuca com muitas iscas para pegar o Jacarezinho. Percebendo toda aquela movimentação, o astuto filhote resolveu dar no pé e, no meio da noite escura, saiu do lago e foi perambulando em busca de sua casa.

Mas a cidade tem sempre aqueles que vagam durante a noite, ora voltando do trabalho, ora voltando de uma festa. Como era o mês de dezembro, festa é o que não faltava, com as confraternizações de fim de ano.

Eis que, ao retornar de uma festa, um jovem rapaz avistou o Jacarezinho andando tranquilamente pela rua. Logo, ligou a luz alta do farol do veículo para conferir se era mesmo um jacaré na rua!

O barulho do carro e a luz do farol assustou o pequeno filhote, que correu até ficar encurralado. O coraçãozinho do bicho pulava tanto, mas tanto, que parecia sair pela boca. E nada adiantava ele mostrar os poderosos dentes na boca aberta, desta vez ele seria pego.

Eis que surgiram os homens, vestindo roupas de cor bem forte, um laranja fosforescente, e, com algumas ferramentas na mão, caminharam rumo ao Jacarezinho. Eram militares do Copo de Bombeiros, que contaram com a ajuda da Polícia Florestal na operação de resgate.

O bicho tentou dar uma de valente, pulou daqui e pulou dali, mas já estava cansado de caminhar e correr. Até que zás, uma corda laçou o pescoço dele e a bocarra foi imobilizada. Pra dentro de uma gaiola ele foi levado. Num misto de raiva e medo, o bicho resmungava:

- Isso não vai ficar assim! Quero os meus direitos. Quero voltar pra natureza!

Porém, ninguém entendia o jacarez, a língua falada pelo Jacarezinho. E ele foi levado em uma gaiola até que chegou a um hospital. Logo pensou:

- O que estou fazendo aqui? Será que vão tirar minha pele para fazer sapato igual a mamãe me disse que os humanos fazem com os jacarés?

E o bichinho ficou quieto num canto, pensando e com medo de perder ali a sua vida que mal começara. Um homem vestindo branco espetou algo no Jacarezinho, que adormeceu. Era um tranquilizante para que o bichinho pudesse ser examinado.

Ele dormiu, dormiu profundamente e sonhou que estava em casa, do lado de sua mãezinha e de toda a família. De repente, ele sentiu um frio percorrendo todo o seu corpo e pensou:

- Ai, ai, ai, estou morrendo!

Quando conseguiu abrir os olhos, reconheceu que estava em casa, no rio Uberaba, e ali bem pertinho a mamãe jacaré rezava, pedindo a volta do filhote. Logo que avistou a família, o fujão nadou o mais rápido que podia e gritou:

- Ei, mãaaaeeee, chegueiiii! O que temos para o nosso Natal?

A mamãe jacaré correu e abraçou o filhote respondendo:

- Você é o meu melhor presente!

 Celi Camargo

Jornalista e presidente da Codiub

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