ARTICULISTAS

O apagão

Ana Maria Leal Salvador Vilanova
Publicado em 06/05/2025 às 17:47
Compartilhar

Começou pela manhã, pouco antes do almoço. Se ao princípio não foi nada de especial, o nível de alarme aumentou quando colegas de trabalho, espalhados por toda a Península Ibérica, começaram a perguntar no grupo do WhatsApp se alguém mais estava sem energia. Logo alguém reportou que era geral: Portugal, Espanha, a esquecida Andorra e até o sul da França.

Nada como falta de energia para desafiar o nível de civilização geral. Uma pequena volta a pé pelo bairro e a constatação de que dois supermercados de grandes redes fecharam as portas. Um outro, que decidiu permanecer aberto, colocou seguranças à porta para regular a entrada, mas não conseguiu evitar as panicompras. Clientes enchiam carrinhos com água engarrafada, enlatados e papel higiênico; parecia a pandemia de volta.

Pela rua, a cada passo, ouviam-se histórias cada vez mais bizarras. Uma senhora garantia que a causa se devia a um avião que se chocou com duas torres importantes, dava detalhes de localização e tudo. Outro dizia que a energia só voltaria em dois ou três dias. Muitas certezas para pouca razão.

A internet ainda funcionou por algum tempo, o suficiente para que todos buscassem informações oficiais, colapsando os respectivos sites. Próxima opção, a imprensa habitual, que apenas dava alguma tranquilidade e informava que “as autoridades estão trabalhando”. A verdade é que pouco se sabia. Logo a rede se foi, e o apagão se estendeu à internet.

         Em algum momento foi mais prudente desligar o celular, para salvar bateria e, no caso de haver rede mais tarde, poder comunicar um mínimo. Na rua, muita polícia organizando o trânsito. Os bondes, elétricos, pararam onde estavam, misericordiosamente sem fechar cruzamentos. Ônibus salvaram o dia; viva o combustível fóssil!

Ao entardecer, o escuro invadindo tudo, e alguns pedestres mais corajosos ainda na rua. Velas pela casa. E a espera. De repente, já pelas nove da noite, gritos lá fora. Parecia que a Seleção tinha feito um gol na final da Copa. A energia voltou do outro lado da rua! Ainda mais meia hora para o desfecho e, enfim, luz!

Ficam as lições aprendidas e um triste saldo, uma pessoa falecida em Portugal quando a bateria do seu respirador acabou, e a assistência não chegou a tempo. Apagão não é brincadeira.

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Logotipo JM Magazine
Logotipo JM Online
Logotipo JM Online
Logotipo JM Rádio
Logotipo Editoria & Gráfica Vitória
JM Online© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por