Trago, diante dos olhos, dois textos: um, Instantes
Trago, diante dos olhos, dois textos: um, Instantes, do poeta argentino Jorge Luís Borges; outro, bem atual, Epitáfio, em gravação musical dos Titãs: minha impressão é a de que o primeiro texto foi fonte de inspiração do segundo.
Ambos apresentam, como temática básica, estilos de vida que poderiam ter sido diferentes: o ser humano corre desenfreadamente pela existência afora, atrás de objetivos eleitos como primordiais, tanto no trabalho como em relação a problemas. Com isso, atitudes que lhe poderiam proporcionar alegrias, como desfrutar das belezas da vida – andar descalço, ver mais amanheceres e mais entardeceres, brincar com crianças – passam despercebidas. Há atividades, consideradas mais importantes, que extraem do homem a possibilidade de parar e observar a natureza à sua volta. Há quanto tempo não olhamos para o céu, vendo a beleza do sol que doura lentamente a terra ao amanhecer? E o entardecer? Nem temos tempo de admirar os últimos raios do astro-rei, como que se despedindo, recolhidos pelas sombras da noite. E as crianças? A maioria das pessoas nem disponibilidade possui de brincar com os próprios filhos: há outras urgências que impedem tal “perda” de tempo. E a infância passa, os filhos crescem, e nem os vemos crescer...
Os textos vão-nos envolvendo em suas malhas de reflexão. A vida se faz de momentos, e momentos únicos: o que passou, não volta mais. Daí a importância de cada minuto, de cada hora, de cada dia. Feita de momentos, é preciso que não seja tão complicada: que nos importemos menos com problemas sem tanta importância, e mais com os que realmente existem, deixando de lado aqueles que a imaginação cria; que sejamos menos intransigentes no julgamento das pessoas: cada uma deve ser respeitada como é, com defeitos, mas também com qualidades – seria muita pretensão que o outro fosse forçado a viver de acordo com os padrões que o ser humano elege como os válidos, corretos e irrefutáveis, ou seja, seus próprios padrões.
Outra depreensã somos rebeldes em relação a nós e à própria vida. Exigimos mais de nós mesmos, como se fosse possível a perfeição, quando a jaula é a própria condição humana. Com isso, ninguém aceita a vida como ela se apresenta: muitas vezes na simplicidade que teimamos complicar.
Nas duas composições, o mais admirável reside no apelo à emoçã a postura exigentemente racional arranca das pessoas a possibilidade de se apresentarem sensíveis. Ser sensível, aos olhos de muitos, é ser fraco. Emoções e sentimentos existem, mas devem ser escondidos. Isso porque há uma imensa preocupação em parecer o que os outros querem que sejamos: deixamos, assim, de ser o que realmente somos – complexo de alegrias e tristezas, força e fragilidade, persistência e desânimo e não seres perfeitos ou quase perfeitos.
Diante da vida com seus percalços, o apelo conclusiv chorar mais e, se preciso for, morrer de amor...
(*) Professora de Redação do Colégio Nossa Senhora das Graças. Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro