ARTICULISTAS

A vida como ela é

Trago, diante dos olhos, dois textos: um, Instantes

Terezinha Hueb de Menezes
Publicado em 15/06/2014 às 11:36Atualizado em 19/12/2022 às 07:17
Compartilhar

Trago, diante dos olhos, dois textos: um, Instantes, do poeta argentino Jorge Luís Borges; outro, bem atual, Epitáfio, em gravação musical dos Titãs: minha impressão é a de que o primeiro texto foi fonte de inspiração do segundo.

Ambos apresentam, como temática básica, estilos de vida que poderiam ter sido diferentes: o ser humano corre desenfreadamente pela existência afora, atrás de objetivos eleitos como primordiais, tanto no trabalho como em relação a problemas. Com isso, atitudes que lhe poderiam proporcionar alegrias, como desfrutar das belezas da vida – andar descalço, ver mais amanheceres e mais entardeceres, brincar com crianças – passam despercebidas. Há atividades, consideradas mais importantes, que extraem do homem a possibilidade de parar e observar a natureza à sua volta. Há quanto tempo não olhamos para o céu, vendo a beleza do sol que doura lentamente a terra ao amanhecer? E o entardecer? Nem temos tempo de admirar os últimos raios do astro-rei, como que se despedindo, recolhidos pelas sombras da noite. E as crianças? A maioria das pessoas nem disponibilidade possui de brincar com os próprios filhos: há outras urgências que impedem tal “perda” de tempo. E a infância passa, os filhos crescem, e nem os vemos crescer...

Os textos vão-nos envolvendo em suas malhas de reflexão. A vida se faz de momentos, e momentos únicos: o que passou, não volta mais. Daí a importância de cada minuto, de cada hora, de cada dia. Feita de momentos, é preciso que não seja tão complicada: que nos importemos menos com problemas sem tanta importância, e mais com os que realmente existem, deixando de lado aqueles que a imaginação cria; que sejamos menos intransigentes no julgamento das pessoas: cada uma deve ser respeitada como é, com defeitos, mas também com qualidades – seria muita pretensão que o outro fosse forçado a viver de acordo com os padrões que o ser humano elege como os válidos, corretos e irrefutáveis, ou seja, seus próprios padrões.

Outra depreensã somos rebeldes em relação a nós e à própria vida. Exigimos mais de nós mesmos, como se fosse possível a perfeição, quando a jaula é a própria condição humana. Com isso, ninguém aceita a vida como ela se apresenta: muitas vezes na simplicidade que teimamos complicar.

Nas duas composições, o mais admirável reside no apelo à emoçã a postura exigentemente racional arranca das pessoas a possibilidade de se apresentarem sensíveis. Ser sensível, aos olhos de muitos, é ser fraco. Emoções e sentimentos existem, mas devem ser escondidos. Isso porque há uma imensa preocupação em parecer o que os outros querem que sejamos: deixamos, assim, de ser o que realmente somos – complexo de alegrias e tristezas, força e fragilidade, persistência e desânimo e não seres perfeitos ou quase perfeitos.

Diante da vida com seus percalços, o apelo conclusiv chorar mais e, se preciso for, morrer de amor...

(*) Professora de Redação do Colégio Nossa Senhora das Graças. Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Logotipo JM Magazine
Logotipo JM Online
Logotipo JM Online
Logotipo JM Rádio
Logotipo Editoria & Gráfica Vitória
JM Online© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por