A morte faz parte da vida? Sim. Começamos a morrer exatamente no dia em que nascemos? Sim
A morte faz parte da vida? Sim.
Começamos a morrer exatamente no dia em que nascemos? Sim.
A morte é uma etapa da nossa existência com a qual temos que conviver. Não se pode evitá-la, pode-se conviver melhor ou pior com a ideia de sua chegada. Pode-se aceitar a sua inevitabilidade e olhá-la de frente, ou pode-se negá-la, o que não vai mudar o curso da vida e da morte. A ideia de que, como quase tudo neste mundo, também nós somos impermanentes, precisa ser absorvida.
Em certas ordens religiosas católicas, os monges, ao se encontrarem nos corredores do mosteiro, costumam dizer uns aos outros: “Memento mori”, uma expressão latina que significa “lembre-se de que vai morrer”. A saudação, que é o contraponto de “Carpe diem” (aproveite o dia), funciona como um exercício espiritual de aceitação gradual e diária da morte, vendo-a como uma consequência da própria vida e também de preparação para o momento em que ela acontecer.
O contrário disso é o culto ao ego, ao “pequeno eu” que há dentro de cada um de nós, manifestado na não aceitação do curso natural dos acontecimentos, quando ele não ocorre como gostaríamos. E que está presente no indivíduo que tenta se colocar sempre acima do todo a que pertence. Ao não conseguir fazê-lo, esse “eu” sofre exageradamente para aceitar a parte que lhe cabe.
Na vida, quanto mais você está centrado em si mesmo, sem compartilhar suas alegrias e suas frustrações com os outros, mais você sofre com a ausência de solidariedade, com o isolamento que impõe a si mesmo, com a falsa ideia de que está desamparado.
Na morte, quanto menos você compartilha a sua dor, mais insuportável ela se torna. O sofrimento é um dos elos fundamentais da humanidade.
As perdas que você acumula ao longo da vida podem tanto potencializar o seu medo da morte quanto ensiná-lo a conviver melhor com a sua finitude.
Há muito tempo, no Tibete, uma mulher viu seu filho ainda bebê adoecer e morrer em seus braços, sem que ela nada pudesse fazer. Desesperada,saiu pelas ruas implorando que alguém a ajudasse a encontrar um remédio que pudesse curar a morte do filho. Como ninguém podia ajudá-la, a mulher procurou um mestre budista, colocou o corpo da criança a seus pés e falou sobre a profunda tristeza que a estava abatendo. O mestre, então, respondeu que havia, sim, uma solução para sua dor. Ela deveria voltar à cidade e trazer para ele uma semente de mostarda nascida em uma casa onde nunca tivesse ocorrido uma perda. A mulher partiu, exultante, em busca da semente. Foi de casa em casa, sempre ouvindo as mesmas respostas: “Muita gente já morreu nessa casa”. “Desculpe, á houve morte em nossa família.” “Aqui, nós já perdemos um bebê também.” Depois de vencer a cidade inteira sem conseguir a semente de mostarda pedida pelo mestre, a mulher compreendeu a lição. Voltou a ele e disse: “O sofrimento me cegou a ponto de eu imaginar que era a única pessoa que sofria nas mãos da morte”.
Eu, Sandra, compartilho com vocês que também tiveram o privilégio de conviver com a minha inesquecível e amada sogra Aziza, a dor de sua recente perda.
(*) piscóloga clínica