Voltaire, num de seus livros, O Ingênuo, critica os usos e costumes da vida social
Voltaire, num de seus livros, “O Ingênuo”, critica os usos e costumes da vida social. Ele se refere a um índio levado para a Europa. Ao ser batizado, apaixonou-se pela madrinha e estranhou não poder casar-se com ela. Ao se casar, com as devidas licenças, estranha a presença de tabeliões, testemunhas, contratos, dispensas e assinaturas, pensa: “devem ser todos uns patifes para exigir tantos juramentos e tantas testemunhas”.
Por outro lado, Rousseau diz que o homem nasce bom, puro, é a civilização que o corrompe. Hobbes acha o contrário; afirma que o homem é um lobo por natureza, é um animal bravio que devora o semelhante. “O homem é o lobo do homem”.
A confusão não para aí. Aparece outro para dizer que o homem nasce programado, já com sua vida preestabelecida. Programado para sofrer, para ter um câncer, para passar fome, para dar um tiro no ouvido e outras desgraças. Já nasce devendo. Difícil aceitar esse destino tão carregado de pecados a pagar. Não combina com a misericórdia de Deus.
Outros nos ensinam que nascemos carregando as consequências de uma desobediência de Adão, um progenitor primitivo, lendário. Não cumpriu o que lhe foi mandado, pecou e transmitiu seu pecado para todos seus descendentes, por via da união sexual. Difícil também. Santo Agostinho é o responsável por essa “estória”.
O que não podemos nos esquecer é de que, embora racionais, dotados de consciência, nascemos animais. Nascemos com o peso de nossos instintos que nos fazem seguir rotas estranhas e caminhos tortuosos. Usamos do dom da liberdade que Deus nos concedeu para agredir nossos irmãos com artigos agressivos, destemperados, mal-educados, notinhas venenosas humilhando os que estão sofrendo. Achamos que nós somos os puros, os que não erram. É difícil dominar nossos recalques.
Não existe destino, o que existe é mau uso de nossa liberdade. Não podemos vencer-nos sozinhos. Precisamos da ajuda de Deus, de sua Graça, de sua presença, de sua misericórdia. “Sem Mim nada podeis fazer”, é a informação divina.
O centro da pregação de Jesus, o núcleo de seu projeto de vida, o que Ele chamou de Reino de Deus, traz para o nosso comportamento exigências fundamentais. São colocadas diante de nós para nossa livre escolha: amar a Deus acima de todas as coisas, amar ao próximo como a nós mesmos, perdoar aos que nos ofendem e nos agridem, compreensão, tolerância, humildade, justiça, serviço prestado aos outros sem preocupações com retorno.
Os homens, com suas teorias, só complicam as coisas e acham que, se não sofrermos muito, não nos purificaremos de nossos erros. Deus não nos condena ao sofrimento, aos desastres, às misérias humanas, à dor e à angústia.
Por que não acreditar que Deus nos salva porque Ele bom, é Pai? Ele nos ama e nos perdoa. Ele nos aceita como somos, seres frágeis e carregados de instintos destruidores. “Eu não vim salvar os justos, mas os pecadores”. Não estamos aqui como juízes implacáveis, mas como irmãos que toleram, compreendem e perdoam uns aos outros. Infelizmente, adoramos conversa fiada e “noticiazinhas” maldosas...