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A fragilidade de cada um

Quem é frágil? Ou quem não é frágil? Quem sabe o tamanho ou o poder de sua fragilidade?

Sandra de Souza Batista Abud
Publicado em 03/08/2018 às 10:18Atualizado em 20/12/2022 às 15:10
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Quem é frágil?

Ou quem não é frágil?

Quem sabe o tamanho ou o poder de sua fragilidade?

A identificação da própria fragilidade pelo indivíduo não significa que as outras forças que o compõem e o movimentam sejam esquecidas.

A fragilidade é uma força? Ou é uma fraqueza?

Força ou fraqueza, pode ser negligenciada?

Conhecemos a matéria frágil e ameaçada que nos compõe?

Sabemos de nossa agressividade, de nossas pulsões de vida e de morte, de nosso desejo de posse e possessão, de nosso amor pela dominação, de nossa loucura pelo poder?

Sabemos da ternura, muitas vezes velada, da verdadeira compaixão, da renúncia, da submissão e do sofrimento que trazem aquela satisfação e paz?

Não somos fortes e, ao mesmo tempo, frágeis?

Estamos expostos, muito expostos, a qualquer sentimento.

Nossas inquietações, nossos medos, nossos afetos nos tornam frágeis.

Nossa vulnerabilidade causa a nossa fragilidade. Fragilidade que nos escapa e volta para nós. Fragilidade apreciada porque nos causa prazer. Como? Se fôssemos possantes e indestrutíveis, ou seja, invulneráveis, o prazer se tornaria inacessível.

Quando descobrimos nossa fragilidade?

É na adolescência que nos descobrimos frágeis.

As crianças, por inexperiência, sentem e se julgam poderosas, invencíveis, verdadeiros super-heróis e verdadeiras super-heroínas.

O adolescente já reconhece sua fragilidade, muitas vezes camuflada pela insolência, pela arrogância ou pela exibição.

É na adolescência que a fragilidade nossa, fragilidade de cada um, se instala e não nos deixará mais.

Como agir?

Como falar ao adolescente, rebelde e poderoso, que ele é fraco e frágil?

Com ordens? Com bravuras? Com regras? Com força?

Nada disso. É com o reconhecimento da própria fragilidade que o adulto ajudará o adolescente, neste terreno que começa a conhecer.

É mostrando que temos e podemos ter um desejo ardente de viver, de superar, de ser feliz, desejo este oriundo da descoberta da nossa fraqueza, da consciência da nossa fragilidade.

É muito interessante saber que ninguém é forte o tempo todo.

É muito importante saber que todos nós, em algum momento, precisamos de ajuda, ou do outro. E não há nada de errado nisso, nesse reconhecimento.

Reconhecer essa necessidade é saudável.

É salutar pedir apoio, cuidado, carinho.

Nesses momentos, uns aprendem a ser mais fortes e outros a respeitar a própria vulnerabilidade e a fragilidade dos indivíduos.

Observando melhor nossos sentimentos, teremos mais condição de perceber quando queremos ser cuidados e amparados ou ajudados.

O conflito entre a necessidade e o orgulho pode dificultar os fatos, mas deixe a fragilidade falar mais alto e peça ajuda e atenção quando preciso for.

Reconhecendo a sua fragilidade, o indivíduo estará construindo relações com direitos iguais, com menos cobrança e convivência mais harmoniosa.

O contato franco com a nossa fraqueza, a evidência íntima de que somos frágeis nos fortalece.

Sem o conhecimento da própria precariedade e fragilidade, ninguém pode ser forte, assim como sem a consciência da própria morte, ninguém pode viver verdadeiramente.

                                         

(*) psicóloga clínica

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