Quem é frágil? Ou quem não é frágil? Quem sabe o tamanho ou o poder de sua fragilidade?
Quem é frágil?
Ou quem não é frágil?
Quem sabe o tamanho ou o poder de sua fragilidade?
A identificação da própria fragilidade pelo indivíduo não significa que as outras forças que o compõem e o movimentam sejam esquecidas.
A fragilidade é uma força? Ou é uma fraqueza?
Força ou fraqueza, pode ser negligenciada?
Conhecemos a matéria frágil e ameaçada que nos compõe?
Sabemos de nossa agressividade, de nossas pulsões de vida e de morte, de nosso desejo de posse e possessão, de nosso amor pela dominação, de nossa loucura pelo poder?
Sabemos da ternura, muitas vezes velada, da verdadeira compaixão, da renúncia, da submissão e do sofrimento que trazem aquela satisfação e paz?
Não somos fortes e, ao mesmo tempo, frágeis?
Estamos expostos, muito expostos, a qualquer sentimento.
Nossas inquietações, nossos medos, nossos afetos nos tornam frágeis.
Nossa vulnerabilidade causa a nossa fragilidade. Fragilidade que nos escapa e volta para nós. Fragilidade apreciada porque nos causa prazer. Como? Se fôssemos possantes e indestrutíveis, ou seja, invulneráveis, o prazer se tornaria inacessível.
Quando descobrimos nossa fragilidade?
É na adolescência que nos descobrimos frágeis.
As crianças, por inexperiência, sentem e se julgam poderosas, invencíveis, verdadeiros super-heróis e verdadeiras super-heroínas.
O adolescente já reconhece sua fragilidade, muitas vezes camuflada pela insolência, pela arrogância ou pela exibição.
É na adolescência que a fragilidade nossa, fragilidade de cada um, se instala e não nos deixará mais.
Como agir?
Como falar ao adolescente, rebelde e poderoso, que ele é fraco e frágil?
Com ordens? Com bravuras? Com regras? Com força?
Nada disso. É com o reconhecimento da própria fragilidade que o adulto ajudará o adolescente, neste terreno que começa a conhecer.
É mostrando que temos e podemos ter um desejo ardente de viver, de superar, de ser feliz, desejo este oriundo da descoberta da nossa fraqueza, da consciência da nossa fragilidade.
É muito interessante saber que ninguém é forte o tempo todo.
É muito importante saber que todos nós, em algum momento, precisamos de ajuda, ou do outro. E não há nada de errado nisso, nesse reconhecimento.
Reconhecer essa necessidade é saudável.
É salutar pedir apoio, cuidado, carinho.
Nesses momentos, uns aprendem a ser mais fortes e outros a respeitar a própria vulnerabilidade e a fragilidade dos indivíduos.
Observando melhor nossos sentimentos, teremos mais condição de perceber quando queremos ser cuidados e amparados ou ajudados.
O conflito entre a necessidade e o orgulho pode dificultar os fatos, mas deixe a fragilidade falar mais alto e peça ajuda e atenção quando preciso for.
Reconhecendo a sua fragilidade, o indivíduo estará construindo relações com direitos iguais, com menos cobrança e convivência mais harmoniosa.
O contato franco com a nossa fraqueza, a evidência íntima de que somos frágeis nos fortalece.
Sem o conhecimento da própria precariedade e fragilidade, ninguém pode ser forte, assim como sem a consciência da própria morte, ninguém pode viver verdadeiramente.
(*) psicóloga clínica