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A cozinheira e o presidente Lula

Um amigo mostrou-me uma lista para compras no supermercado. A autora tinha sido sua nova empregada, precedida com fama de excepcional cozinheira.

Padre Prata
thprata@terra.com.br
Publicado em 03/08/2018 às 10:18Atualizado em 20/12/2022 às 14:21
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Um amigo mostrou-me uma lista para compras no supermercado. A autora tinha sido sua nova empregada, precedida com fama de excepcional cozinheira. Era uma folha de papel onde estavam escritas as necessidades mais urgentes da cozinha.  Ao recebê-la, como estava com pressa, colocou-a no bolso e saiu. Ao chega ao supermercado, tomou o carrinho de compras e abriu a lista. Estava escrit  sau  fubar  vos  panhos  arose adocete  olho cane  qadokino bobiu  pex  porau  ganapo.  Embasbacado, chamou um empregado que batia uma “maquininha” ajustando os preços (para cima). O rapaz, solícito, iniciou a leitura:  sal, fubá, ovos, panos, arroz, adoçante, óleo, carne, caldo knorr, bombril, peixe, colorau, guardanapo.  Curioso, meu amigo pergunta: “Como você deu conta de traduzir isto?”  O serviçal sorriu e sentenciou: “Olhe, doutor, nesse tempo de crise, quem não falar duas línguas está torrado.”

Não julgue o possível leitor que eu esteja criticando a cozinheira. De modo nenhum. Não saber ler ou escrever não depõe contra a pessoa de ninguém. Conheço analfabetos que são modelos de honestidade, de seriedade, de solidariedade e de muitas outras virtudes. Por outro lado, conheço pessoas de diploma e anel no dedo que são desonestas, mentirosas, egoístas, trapaceiras e por aí afora.  Todo esse gancho foi montado para que eu chegasse até o Presidente Lula.  Lemos, pelos jornais, que ele conseguiu a aprovação de 74% da população. Mais ainda. Entre os cem políticos  de maior influência na área internacional, ele conseguiu o décimo oitavo lugar. É um feito que nos deixa orgulhosos. Se cometeu erros infantis e ridículos em seu falar,  já se corrigiu. Hoje, é muito difícil encontrar uma impropriedade de gramática em seus discursos, mesmo nos improvisos. Sua capacidade de influir as pessoas é invejável. Sua acuidade em perceber problemas e tentar contorná-los é espantosa. Tem seus defeitos de comportamento, mas quem não os tem?

Não vou fazer uma crítica, é apenas uma observação. Um presidente da república deve ter uma certa postura exigida pelo cargo que ocupa. O Presidente da Nação é um estadista. Sua fala deve ser mais cuidadosa. Deve evitar certos termos que não ficam bem na boca de um presidente. Não são termos indecentes, mas são impróprios para o momento. Ninguém  gostaria de ouvir o Papa falar em diarréia, em chulé, por exemplo. Pegaria mal. Mas, o nosso Presidente gosta das palavras de baixo calão, de falar em arroto, em “que ele sifu”, e outras mais. Falar com simplicidade é uma coisa, descer o nível é outra. Não se trata de um afrancesado “noblese oblige”, mas de uma postura.  Só isso.

Meu caro Presidente, siga o conselho dos sábios latinos: “Ascende superius”,  isto é, “suba um pouco mais.”

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