Um amigo mostrou-me uma lista para compras no supermercado. A autora tinha sido sua nova empregada, precedida com fama de excepcional cozinheira.
Um amigo mostrou-me uma lista para compras no supermercado. A autora tinha sido sua nova empregada, precedida com fama de excepcional cozinheira. Era uma folha de papel onde estavam escritas as necessidades mais urgentes da cozinha. Ao recebê-la, como estava com pressa, colocou-a no bolso e saiu. Ao chega ao supermercado, tomou o carrinho de compras e abriu a lista. Estava escrit sau fubar vos panhos arose adocete olho cane qadokino bobiu pex porau ganapo. Embasbacado, chamou um empregado que batia uma “maquininha” ajustando os preços (para cima). O rapaz, solícito, iniciou a leitura: sal, fubá, ovos, panos, arroz, adoçante, óleo, carne, caldo knorr, bombril, peixe, colorau, guardanapo. Curioso, meu amigo pergunta: “Como você deu conta de traduzir isto?” O serviçal sorriu e sentenciou: “Olhe, doutor, nesse tempo de crise, quem não falar duas línguas está torrado.”
Não julgue o possível leitor que eu esteja criticando a cozinheira. De modo nenhum. Não saber ler ou escrever não depõe contra a pessoa de ninguém. Conheço analfabetos que são modelos de honestidade, de seriedade, de solidariedade e de muitas outras virtudes. Por outro lado, conheço pessoas de diploma e anel no dedo que são desonestas, mentirosas, egoístas, trapaceiras e por aí afora. Todo esse gancho foi montado para que eu chegasse até o Presidente Lula. Lemos, pelos jornais, que ele conseguiu a aprovação de 74% da população. Mais ainda. Entre os cem políticos de maior influência na área internacional, ele conseguiu o décimo oitavo lugar. É um feito que nos deixa orgulhosos. Se cometeu erros infantis e ridículos em seu falar, já se corrigiu. Hoje, é muito difícil encontrar uma impropriedade de gramática em seus discursos, mesmo nos improvisos. Sua capacidade de influir as pessoas é invejável. Sua acuidade em perceber problemas e tentar contorná-los é espantosa. Tem seus defeitos de comportamento, mas quem não os tem?
Não vou fazer uma crítica, é apenas uma observação. Um presidente da república deve ter uma certa postura exigida pelo cargo que ocupa. O Presidente da Nação é um estadista. Sua fala deve ser mais cuidadosa. Deve evitar certos termos que não ficam bem na boca de um presidente. Não são termos indecentes, mas são impróprios para o momento. Ninguém gostaria de ouvir o Papa falar em diarréia, em chulé, por exemplo. Pegaria mal. Mas, o nosso Presidente gosta das palavras de baixo calão, de falar em arroto, em “que ele sifu”, e outras mais. Falar com simplicidade é uma coisa, descer o nível é outra. Não se trata de um afrancesado “noblese oblige”, mas de uma postura. Só isso.
Meu caro Presidente, siga o conselho dos sábios latinos: “Ascende superius”, isto é, “suba um pouco mais.”