ARTICULISTAS

Percepção do cotidiano: via sacra de cada dia

Profa. Dra. Vania Fonseca
Publicado em 13/04/2024 às 19:04
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Jesus Cristo, antes de morrer no Gólgota (Jerusalém), percorreu uma via dolorosa, ao parar em determinados pontos que se tornaram célebres pela representação significativa e modelo para reflexão dos cristãos. Em 2024, o papa Francisco relembra este caminho, desabafa as próprias imperfeições ao retomar os propósitos e ações de alguém divino que se fez humano, e motiva, aqui, o registro de suas principais meditações que podem nos fortalecer e orientar em nossos percursos do conturbado tempo atual.

Inicialmente, diante da condenação e silêncio de Jesus, papa Francisco expõe-se: “Tomado pelo medo de não continuar a figurar ou pela mania de me pôr no centro, não encontro tempo para parar e ficar convosco”; e pede: “Ensina-me que a oração não nasce dos lábios que se movem, mas dum coração que sabe permanecer à escuta”. Em seguida, indaga: “Como fazer quando me sinto esmagado pela vida, quando um fardo me pesa no coração, quando estou sob pressão e já não tenho força para reagir”? [...] “sinto pena de mim mesmo, afundo na condição de vítima, um campeão de negatividade”; e agradece: “Uno a minha cruz à vossa, trago-vos o meu cansaço e as minhas misérias, lanço sobre vós todos os pesos do meu coração”.

Ante as quedas, interroga a Jesus: “Em que pensais, como rezais com a face no pó? Mas, sobretudo, o que é que vos dá a força para vos levantardes”? E desabafa: “Compreendo-o quando me sinto esmagado pelas coisas, metralhado pela vida e incompreendido pelos outros; quando sinto o peso excessivo e enervante da responsabilidade e do trabalho, quando estou comprimido pelas garras da ansiedade, assaltado pela melancolia, enquanto um pensamento sufocante me vai repetindo: não vais sair desta, desta vez não te erguerás”. Por fim, pede “forças para amar e recomeçar”.

Ao lembrar a mãe de Jesus, os discípulos que o abandonaram, Francisco clama: “Ajudai-me a fazer memória: a guardar a graça, a lembrar o perdão e os prodígios de Deus, a reavivar o primeiro amor, a saborear as maravilhas da providência, a chorar de gratidão”. Perante as lembranças dos encontros de Jesus com Simão de Cirene e Verônica, papa Francisco roga: “Ajudai-me a baixar as defesas e deixar-me amar por vós, precisamente no ponto onde tenho mais vergonha de mim mesmo”; e nos ensina que “as fragilidades transformam-se em oportunidades” de praticar e receber o amor, de “ser consolação para os outros”.

Em face de Jesus com as mulheres de Jerusalém, questiona-se: “À vista das tragédias do mundo, o meu coração permanece gelado ou enternece-se? Como reajo à loucura da guerra, a rostos de crianças que já não sabem sorrir, a mães que as veem desnutridas e famintas e não têm mais lágrimas para derramar”? E suplica: “Sacudi-me no meu íntimo, dai-me a graça de chorar rezando e de rezar chorando”. [...] “enternecei o meu coração endurecido”. Contata-se, pelos desabafos de Francisco em humildade, as suas fragilidades emocionais, além de suas doenças físicas, que nos inspiram ao “orai e vigiai” diante do cansaço pela vida.


 

Profa. Dra. Vania Fonseca

Bióloga e pedagoga

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