ARTICULISTAS

Palavras, palavrinhas e palavrões

Arahilda Gomes Alves
Publicado em 04/05/2024 às 19:13Atualizado em 05/05/2024 às 07:38
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Minha agenda fixava data de três anos atrás. Recheada de apontamentos, lidava com três delas, conforme assunto, porém. Horário de aulas de alunos de canto, poemas e outros exercícios poéticos dos Poetas del Mundo, onde estou filiada, bons e-mails merecendo retê-los para reflexão. Folheando um deles, preciosidade – no rodapé de cada página, pensamento filosófico creditava ao autor sábias palavras. De Antoine de Saint-Exupéry: “É apenas com o coração que se pode ver direito: o essencial é invisível aos olhos”. O mundo atravessa situações às avessas. A sensibilidade cedeu lugar à estupidez, palavras não mais se associavam aos gestos. Atiravam-nas ou amordaçavam-nas conforme interesses. A cadência que a envolvia em inflexões de sublime conteúdo, outras forjadas em balões de ensaio segundo a época de loucuras na qual vivemos, falhas de sensibilidade gerando formação doentia apoiada em drogas, malquerenças e individualismos. O coração não é mais poeticamente, condensador de mensagens, guardião de benevolências, mas, crua e fisiologicamente, órgão a levar nos muitos caminhos que percorre o sangue em sístole e diástole. Ainda sanguíneo, sanguinário, porém. A natureza acoplou-se à humanidade enraivecida. Envaidecida em mirabolantes feitos, espalha ações impunes, porque os poderes da força tornaram-se força de poderes. Se persistirem palavras reflexivas, tornam-se palavrinhas misturadas a palavrões. O filho da mãe que não precisa de exame de DNA subtende o filho de outras plagas... O “vá tomar banho” com inflexão raivosa deixou de ser o chamamento carinhoso de mãe para filho, ato de asseio e saúde... Os próprios vocábulos que enfatizam esta crônica, de variadas inflexões, preenchem laudas e agendas. As Bibliotecas, modelos para outras instituições congêneres. Locais de silêncio perscrutador, eloquente, imagem viva da criação, oásis onde se sacia a curiosidade intelectiva e afetiva. Irrequieta imagem a nos levar à inquietude de palavras formantes do saber. Meios salutares do pensamento produtivo. Berços de acalantos a acordar palavras adormecidas criando corpo, imagem saltitante e reflexiva em sopros de inspiração.

Arahilda Gomes Alves
Cadeira 33 da ALTM

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