ARTICULISTAS

Exumação do passado

Arahilda Gomes Alves
Publicado em 25/03/2024 às 18:38
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Expressão que me remonta a um tempo histórico, onde a memória se acopla a tempos de internato viral. Consagrara-a a dileto amigo das letras, aniversariante de maio, quando o cogno mineiro – o Kurt Lang uberabense – saudoso Jorge Alberto traz semelhanças na área cultural com aquele historiador alemão, que vivera 83 anos (dezembro 1903 a maio 1997) e citado em meu livro “Sob mil olhares”, em 2013, quando me empossara na Academia de Letras do Triângulo Mineiro.

Como pesquisador, aquele impulsionou sob todos os aspectos produzindo vasto acervo doado a Ouro Preto, desde que adquiriu cidadania uruguaia, estimulando as Artes em toda a América Latina.

Este amigo, também, produtor cultural fazendo ponte com o social, fora sustentáculo de compilação nesse vasto universo compartilhante de conhecimentos a merecer grandes destaques nas passarelas do teatro da vida.

E “num estalo de Vieira”, remontei à exumação de histórias de vida, no campo cultural/musical. Infelizmente, o 28 de fevereiro de 2024 trouxera-nos triste e assustadora notícia, que, embora o tempo corra, não nos traz qualquer alento.

Amigos tantos teceram loas destacando o legado de Nabut em todos os setores culturais.

Pesquisas, ao ouvir a “Sinfonia 141”, onde se acha inserida a “Cantata (feita para ser cantada) Jesus, alegria dos homens”, composta por Bach, um dos três grandes Bs da Alemanha.

Fugindo às biografias batidas de famosos, descobri na estante de meu saudoso marido, delegado de Polícia Civil, que tinha como passatempo o cultivo de boas leituras, o livro que me serve de aporte para um acolhimento diferenciado do “pai da Música”, tendo prole de vinte filhos, sobrevivendo-lhe apenas nove deles. Johann Sebastian, durante oitenta anos, enterrado em cova rasa, fora “redescoberto” por Mendelsohnn, aos quinze anos, na casa de seu professor, quando depois de cem anos da primeira execução sem êxito, ensaiava na Academia de Canto de Berlim obra supostamente desconexa, exigindo dois corais e dois conjuntos orquestrais. Era “A Paixão Segundo São Matheus”. Uma das famosas composições de quem tudo compunha glorificando a Deus. O pequeno Bach, órfão aos dez anos, era alvo de inveja e, até desprezado por um irmão que lhe escondia peças, a que ele, à noite, retirava do esconderijo, copiando-as, o que lhe prejudicou os olhos.

Estudiosos do piano analisam ser a obra de Bach de efeito contrapontístico, ou seja, “como se fora um arco, com colunas de acordes na parte baixa sustentando uma linha melódica na primeira voz. Se virar de cabeça para baixo, destacando-se cada linha melódica, elas soarão ao mesmo tempo, fundindo-se entre si, formando matizadas colorações”.

Bach compunha sem se importar em editar suas centenas de composições, muitas delas servindo para alunos enrolar sanduiches. O trabalho mal remunerado deixou-o com saúde abalada e cego, após duas tentativas de cirurgia sem êxito.

Ao escutar Bach segundo seu biógrafo, separe auditivamente as melodias intermediárias e perceberá intimidade em cada voz encontrando belezas infindáveis à repetição.

Morreu como vivera, louvando a Deus com o título de sua última peça: o hino “Diante do teu trono, oh Senhor!”. Verdadeiro cântico para meditar nestes tempos sombrios, quando a memória nos mantém em apreço na ausência, “que a lembrança entalha”. “Que queres tu, Memória, num Cântico que fustiga o corpo em mortalha?”

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