ARTICULISTAS

Poetas das mãos

Iná e Ani
Publicado em 02/05/2024 às 17:41
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É verdade que muitas pessoas podem não entender o valor por trás de uma peça artesanal. Eu e minha irmã gêmea Ani sempre reconhecemos a importância do trabalho manual e o significado pessoal e cultural que ele carrega. Foi-se o tempo em que o trabalho de artesão era coisa de hippie, associando-se apenas a um estilo de vida alternativo. Agora, torna-se um movimento rico e diversificado, valorizando o talento das pessoas que escolheram seguir por esse caminho. 

Cada peça artesanal não é apenas um objeto, mas uma expressão artística e uma conexão com a história e a tradição. Ao viajarmos pelo Brasil, especialmente onde o artesanato é parte importante da cultura local, como no Nordeste, Amazônia e por aqui, Minas Gerais, é possível ver essas riquezas de formas e técnicas feitas à mão.

Lembro perfeitamente quando estivemos em viagem para as bandas de lá, que Ani se encantou com pedras figurativas, verdadeiras obras de arte, réplicas perfeitas de frutas, como maçãs, bananas, uvas e todas mais, e perdemos a noção do tempo. Adquirimos aquelas maravilhas e quase não alcançamos o ônibus de volta ao navio. E lá fomos nós com um saco de pedras de seis quilos ou mais. O xente! Às vezes, o artesanato é tão admirável que nos esquecemos das preocupações mundanas.

Na arte popular brasileira, as cabaças são transformadas, retratando rostos humanos, como baianas, africanas, mineiras. Essas peças não só embelezam os espaços, como também celebram a diversidade cultural e a riqueza do nosso país.

As feirinhas de artesanato no mundo inteiro expõem objetos que carregam afeto. Quando damos preferência ao pequeno, é mais que uma contemplação, é um “mimo” que nos leva a repensar os lugares distantes que visitamos. É incrível e louvável quando conversamos com talentosos artesãos, maltrapilhos, sentados nos passeios, e observamos seus dons criativos e belos, expostos em cima de uma canga. Esses artesãos nos comovem pelas histórias de luta, vivendo por meio de sua arte pouco valorizada, excluídos, mesmo tendo ofícios perfeitos. Misericórdia!

A literatura de cordel é um exemplo clássico de trabalho artesanal da palavra. Os cordelistas, “poetas que escrevem versos à mão”, dominam não apenas a arte de contar histórias, mas também habilidades de criar poemas rimados e metrificados, de forma criativa e envolvente, e executar a confecção de seus próprios livretos.

Em nosso tempo, bonecas fizeram companhia em nossas memórias, bonecas de pano, que fazíamos costurando com nossas próprias mãozinhas e se tornavam as bonecas da alma.

O fato de um trabalho ser feito de modo primário demonstra atenção nos detalhes. Que tal utilizarmos essa técnica com crianças, para que escrevam as suas histórias de vida, formatando e costurando as páginas de seu livro com empenho e habilidade?!

Afinal, o mais importante é que a escrita e a literatura, tanto no formato tradicional quanto no digital ou manual, continuem a ser formas preciosas de expressão humana e de preservação da sabedoria e da arte.

Vamos resgatar a arte da palavra, dando a oportunidade de as crianças demonstrarem seus talentos!

 Dois beijos

 Iná e Ani

Ocupa a cadeira nº 4 da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

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